Terapia com cavalos é arma contra a depressão

Cavalo e a depressão, by MAV
Cavalo e a depressão, by MAV

Tema em alta nos últimos meses com o aumento dos casos de suicídio pelo mundo, e em especial em setembro (leia mais abaixo), quando muitos países a abordam em campanhas públicas, a depressão é uma doença da nossa era.

Não apenas porque pôde ser diagnosticada graças ao desenvolvimento da psicanálise, na virada do século 19 para o 20, mas também porque a pressão e a crescente incerteza da vida urbana empurram multidões para situações de ansiedade, insegurança e desânimo.

Fonte: Forbes Brasil, clique aqui e veja a matéria original, seque a reprodução da matéria

As formas mais usuais de tratamento de um quadro depressivo são a psicoterapia, o uso de medicamentos e mudanças no estilo de vida. Outra grande aliada é a equoterapia, que pode ser feita em qualquer idade e auxilia terapeuticamente pessoas com problemas tanto motores quanto psicológicos. A recuperação se dá por meio do estímulo motor e afetivo, capaz de melhorar tanto a coordenação e o equilíbrio quanto o bem-estar, a memória e o humor e contribuir para a erradicação de pensamentos ruins – proporcionando autoestima e confiança para o praticante.

Depressão e o cavalo
Depressão e o cavalo

Segundo Letícia Junqueira, coordenadora de terapia com equinos no Jockey Club de São Paulo, o andar tridimensional do cavalo provoca deslocamentos no quadril do paciente – passando pela coluna e pela medula até atingir o sistema nervoso. “Em uma aula, o praticante recebe de 1.800 a 2.200 estímulos”, diz.

No tratamento da depressão, a superação possibilitada pela terapia é um grande benefício. “O cavalo é um animal de 500 quilos. Logo, montá-lo é um desafio capaz de melhorar a autoestima e empoderar o cavaleiro. Além de tudo, a atividade proporciona a liberação de substâncias que podem estabilizar a depressão, como endorfina, betaendorfina, serotonina e citocina – responsáveis pelo bem-estar, felicidade e amor.”

Para entender mais a fundo a necessidade do paciente, Letícia aplica ainda a Constelação com Cavalos, que é uma adaptação do método da Constelação Familiar – técnica de psicoterapia desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger em que o participante passa por um processo de autoconhecimento assistido. “O equino possui o chamado neurônio espelho. Durante a terapia, o animal consegue, por empatia, ler e espelhar a linguagem corporal do paciente. Assim, pode acessar e identificar com rapidez a questão a ser trabalhada. Existem até casos em que o animal chora durante a sessão.”

Durante o processo, os cavalos e os participantes dividem o mesmo ambiente. O profissional responsável pela condução da sessão levanta questões. As respostas corporais do indivíduo a essas perguntas são lidas e interpretadas pelos equinos que as reproduz em forma de pequenos gestos. Por fim, os comportamentos do animal são traduzidos pelo coach e chega-se ao diagnóstico do problema.

Como qualquer mudança de hábito e estilo de vida, a equoterapia pede rotina e frequência. Em casos de depressão, o indicado é realizar as sessões com curtos intervalos de tempo.

Conheça, na galeria de imagens a seguir, 5 locais para praticar equoterapia no Brasil. Os valores são referentes a pacotes mensais com sessões uma vez por semana:

Depressão x suicídio

A maior parte dos estudos aponta a depressão severa como uma das causas do suicídio, problema que adquiriu contornos de fenômeno recentemente. O superintendente técnico da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina (Apal), Antônio Geraldo, atenta para dois fatores da doença. “Há uma tendência genética, o genótipo, e uma do ambiente, o fenótipo. Há, por exemplo, quadros de crianças com dois e três anos de idade que não têm relação com o ambiente. Também há outros desencadeadores, como o pós-parto ou uma cirurgia, capazes disparar a patologia em quem a tem no gene.”

Ainda segundo Geraldo, o suicídio está ligado a um transtorno psiquiátrico. Em estudo realizado com mil pessoas por José Manoel Berlote, docente do departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unesp, 96,8% das pessoas que decidiram tirar a própria vida tinham diagnóstico – destes, aproximadamente 37% possuíam transtornos afetivos, entre eles depressão.

Quanto aos sinais que podem ser identificados em alguém suscetível a pensamentos suicidas, Antônio Geraldo alerta para frases de desistência e a demonstração de comportamentos tais como acertar contas, pagar todas as dívidas e arrumar documentações, como forma de preparação para o ato. “Estes são sinais importantes, assim como também o isolamento, o afastamento e a falta de alegria – excluindo-se quando se trata de esquizofrenia.”

Setembro Amarelo

O combate à depressão no país ganha durante este mês, há três anos, uma forte campanha, promovida pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O Setembro Amarelo, como é batizado, possui caráter preventivo: a ideia é informar para ajudar quem precisa a procurar auxílio e diagnóstico precoce. Quem tem um conhecido com sinais deve estar sempre por perto, mantê-lo amparado para que sinta que é amado e não está sozinho e que pode superar a questão.

O mês não foi escolhido ao acaso: em 2003, a Associação Internacional para Prevenção do Suicídio e a Organização Mundial da Saúde (OMS) fizeram de 10 de setembro o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A data hoje pauta a gestão pública de 70 países, que aproveitam a ocasião para abordar o tema de forma aberta e direta.

Segundo dados de 2017 da OMS, aproximadamente 800 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano – o que representa 1,4% de todas as mortes no mundo – e outras 16 milhões tentam, felizmente sem sucesso. Entre os jovens de 15 a 29 anos, essa é a segunda principal causa de morte.

No Brasil, de acordo com boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2015 foram registradas 55.649 mortes por suicídio. As maiores taxas (número de óbitos para cada 100 mil habitantes) estão entre indígenas e pessoas com 70 anos ou mais – com índices mais expressivos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.