O nascimento dos potros gera uma das maiores expectativas na criação de cavalos. Momento em que o criador aguarda ansiosamente o fruto do acasalamento de indivíduos de alto potencial genético.
[responsivevoice_button voice="Brazilian Portuguese Female"] A expectativa é que o potro seja superior aos pais, que reúna as qualidades da mãe e do pai. Logo, a nutrição deve favorecer a expressão dos genes, para que o potro apresente o fenótipo (genética + ambiente) desejado. Sendo assim, devemos nos preocupar, no caso dos potros, desde a concepção (momento da fecundação do óvulo pelo espermatozoide) até a fase final do seu crescimento, por volta dos 24 meses.Durante a formação e desenvolvimento do feto ocorre a Programação Fetal (expressão de genes) que vai determinar características do indivíduo para o resto de sua vida. A Programação Fetal pode ser influenciada por hormônios (insulina, leptina, cortisol), nutrientes (aminoácidos, ácidos graxos, minerais) e outras substâncias que chegam ao feto pela placenta e ou cordão umbilical. Por exemplo, o número de fibras musculares de cada músculo é determinado nos primeiros 40 dias após a concepção. Após este período não ocorre hiperplasia (aumento do número de fibras) e sim hipertrofia (aumento do tamanho das fibras).
Pesquisas estão sendo realizadas para determinar quais nutrientes podem interferir na Programação Fetal, dentre eles, a Glutamina. Este aminoácido possui várias funções entre elas, promover o desenvolvimento muscular (anabólico). De acordo com estudos, o aporte de determinada quantidade de glutamina pode interferir positivamente no número de fibras musculares do feto. Esta influência da égua (matriz ou receptora) na Programação Fetal é chamada de Imprinting Genético. Logo, quando falamos em nutrição de potros e expressão do potencial genético temos que atentar para a nutrição, saúde e bem-estar da matriz ou receptora desde a concepção e não somente no terço final da gestação e ou após o nascimento.
Antes e após o nascimento é muito importante o estado nutricional da égua, pois, o mesmo interfere na qualidade imunológica do colostro e na quantidade de nutrientes do leite. Criar um potro não é uma tarefa fácil e exige muita atenção e cuidados do criador. Nas horas iniciais do nascimento é extremamente importante garantir que este potro faça a ingestão do colostro adequadamente, a fim de obter imunidade. Nas primeiras 18 horas o intestino tem maior permeabilidade, favorecendo a absorção dos anticorpos (elementos de proteção contra doenças). Estudos apontam que há em torno de 8 a 10% de perdas de potros lactentes neste período por falta de manejo adequado, descuidos com higiene e erros alimentares. O fator que mais interfere nesta porcentagem é a ingestão inadequada de alguns nutrientes.
Uma das principais afecções que acomete este grupo de animais é a diarreia, caracterizada pela alta frequência na defecação e por baixa quantidade de matéria seca nas fezes. Quando estes potros lactentes apresentam este quadro, suas vilosidades (membranas) intestinais ficam comprometidas, influenciando negativamente na eficiência da digestão e absorção dos nutrientes. Para evitar esta disfunção é importante:
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- Égua com estado imunológico fortalecido;
- Ingerir colostro nas primeiras 18h;
- Desinfecção do coto umbilical;
- Observar defecação duas a três horas após o parto para eliminação do mecônio;
- Desmame gradativo;
- Tenha instalações adequadas (creep feending);
- Programa de vermifugação (a partir do primeiro mês de vida) e vacinação (a partir do quarto mês de vida) adequados;
- Alimentação que atenda as exigências nutricionais.
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O programa nutricional deve ser composto por nutrientes balanceados de acordo com a exigência da fase. A complementação com ração concentrada favorece o aporte de nutrientes e energia necessários a expressão do potencial genético. Essa complementação deve ser sempre acompanhada de uma avaliação do crescimento e da saúde dos potros para que não ocorra uma subnutrição ou uma superalimentação, além de ter de ser ajustada a cada fase do desenvolvimento. O importante é a qualidade dos nutrientes e não a quantidade de nutrientes e ração oferecida. Por exemplo, qual a porcentagem de proteína? Mais importante que a quantidade total de proteína é o teor, o balanceamento (relação entre eles) e a disponibilidade dos aminoácidos (Lisina, Treonina, Metionina e Triptofano). A proteína também deve ser balanceada com relação à energia.
A exigência energética dos potros vai depender da intensidade de crescimento (ganho de peso kg/dia e altura cm/mês) e da atividade física que são submetidos. As rações concentradas, utilizadas para complementar a dieta dos potros, devem priorizar as fontes de energia com menor concentração de carboidratos solúveis, principalmente amido e sacarose (melaço). Estes carboidratos são facilmente fermentáveis podendo causar diarreia. Devem ser utilizadas fontes de energia rica em óleos e fibras de fácil digestão e alta produção de energia.
A quantidade de macro e microminerais fornecidos também são de suma importância para o desenvolvimento dos potros. Utilização de fontes de maior disponibilidade e de minerais quelatados a moléculas orgânicas garantem maior aproveitamento, menor inclusão e menor poluição ambiental.
É importante lembrar que os potros devem ser criados em liberdade. As pesquisas já demonstraram que potros criados em pastos maiores onde podem correr, saltar, brincar e possuem maior secreção do hormônio do crescimento GH. Este hormônio tem um efeito anabólico em quase todos os tecidos, favorecendo o desenvolvimento equilibrado dos animais.
Além dos nutrientes é importante a presença de aditivos como pró e prebióticos que irão auxiliar no equilíbrio da microbiota intestinal, propiciando melhor digestibilidade, aumento na disponibilidade dos nutrientes, redução de microrganismos patógenos, menor ocorrência de resistência bacteriana e consequentemente uma melhor resposta imune. Nutrientes funcionais como o Ômega 3-DHA (ácido graxo essencial) possui ação anti-inflamatória e auxilia nas defesas do organismo, no desenvolvimento neonatal e no comportamento do potro (tempo de lactação e aprendizado). O aminoácido Glutamina também tem função importante nesta prevenção. Ele é utilizado como fonte de energia pelas células da mucosa intestinal, logo contribui para integridade e recuperação deste tecido, reduzindo os efeitos deletérios da diarreia. Não é à toa a presença deste aminoácido no leite materno com objetivo de desenvolver o intestino e aumentar a digestibilidade e absorção dos nutrientes. Estudos mostram que a suplementação de éguas no último mês de gestação e nos primeiros meses de lactação favorece ao aumento da concentração de Glutamina no leite.
Para que o potro expresse todo seu potencial genético e desenvolva corretamente seus sistemas fisiológicos, temos que cuidar das várias fases, desde a concepção até seu completo desenvolvimento. E que em cada fase temos exigências nutricionais e energéticas específicas.
Artigo escrito por:
Eduardo Villela Villaça Freitas, Zootecnista, Doutor em Zootecnia, supervisor técnico de Equinos na Guabi Nutrição e Saúde Animal