Criação de cavalos cresce em SP

Criação de cavalos cresce em SP, Formosa Itapuã
Criação de cavalos cresce em SP, Formosa Itapuã

Criação de cavalos cresce em SP e mercado projeta cenário positivo nos próximos anos.

Fonte: G1 Estação Agro, reprodução

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Beatriz Biagi Becker cria cavalos desde 1975, na Fazenda Vassoural, em Pontal (SP), a 40 quilômetros de Ribeirão Preto (SP). O foco é o mangalarga, mas ela tem, também, alguns da raça crioulo, que conheceu na década de 1980 durante uma visita ao Rio Grande do Sul.

Com uma tropa de pouco mais de 100 animais, Beatriz direciona seus principais esforços na atividade ao melhoramento genético. Entre os animais com estrutura corporal e temperamento mais aptos à reprodução, seleciona exemplares para a própria fazenda e vende o excedente. “A minha luta nesses mais de 40 anos de criação tem sido, principalmente, para popularizar os cavalos.”

Criação de cavalos cresce em SP, Formosa Itapuã
Criação de cavalos cresce em SP, Formosa Itapuã

Se depender dos últimos três anos, ela pode comemorar os investimentos. Mesmo ainda não sendo possível dizer que a criação é popular, já que seus custos são considerados altos para boa parte da população brasileira, o mercado de cavalos cresceu neste período, apesar do cenário de crise econômica no país.

Os números mostram, também, que o estado de São Paulo e a região de Ribeirão Preto, onde está a Vassoural, acompanharam o ritmo. Com a expectativa dos criadores de melhora na economia, as projeções são de aumentos ainda maiores.

De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga (ABCCRM), só em 2018, houve a adesão de 184 novos membros. Com esses, são 2.209 associados ativos em todo o Brasil. No núcleo da Alta Mogiana, que inclui Ribeirão Preto, o crescimento foi de 50% de 2015 para cá – de 30 para 45 associados.

Beatriz Biagi Becker direciona esforços no melhoramento genético de raças como mangalarga e crioulo, em Pontal, SP — Foto: Divulgação/Fazenda VassouralBeatriz Biagi Becker direciona esforços no melhoramento genético de raças como mangalarga e crioulo, em Pontal, SP — Foto: Divulgação/Fazenda Vassoural

Beatriz Biagi Becker direciona esforços no melhoramento genético de raças como mangalarga e crioulo, em Pontal, SP — Foto: Divulgação/Fazenda Vassoural

Já a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) registrou, também nos últimos três anos, incremento de 40% no número de animais no território paulista. E a região de Ribeirão Preto é estratégica para a expansão da raça.

No último concurso “Freio de Ouro”, promovido em agosto, um cavalo de Santa Rita do Passa Quatro (SP), que pertence a um criador residente em Ribeirão Preto, se sagrou bicampeão. É a primeira vez que um mesmo cavalo vence por duas vezes o concurso, considerado o maior da raça no país, o que aumenta a visibilidade da região.

Cerca de 85% dos animais da raça crioulo estão divididos entre os estados da região Sul. Mas foi São Paulo, com o quarto maior plantel brasileiro, que se tornou o principal alvo da associação a partir de 2015. “No Sul, o crioulo já está bastante consolidado, ao passo que, em São Paulo e, especificamente, na região de Ribeirão Preto, existe um forte potencial de crescimento”, afirma Gérson de Medeiros, analista de expansão da raça e de novos projetos da associação.

Cavalo da raça mangalarga criado em Pontal, SP — Foto: Divulgação/Fazenda VassouralCavalo da raça mangalarga criado em Pontal, SP — Foto: Divulgação/Fazenda Vassoural

Cavalo da raça mangalarga criado em Pontal, SP — Foto: Divulgação/Fazenda Vassoural

Motivos

Para um dos vice-presidentes da ABCCRM, Alexandre Oliveira Ribeiro, alguns fatores ajudam a explicar a alta no mercado de cavalos. Um deles é a descoberta de novas opções de lazer em família, como as cavalgadas, que passaram a ser frequentes. Provas e eventos de divulgação promovidos pelas associações também podem ser citados. Outro, um pouco mais antigo, se relaciona à disseminação da música sertaneja. “Em todos esses casos, o cavalo propicia um retorno às origens, à natureza, e isso vem despertando a atenção de muita gente.”

O médico veterinário José Roberto Pires de Campos Filho, assessor técnico da Fazenda Vassoural e de outras propriedades espalhadas pela região, encontra mais uma razão. “Antigamente, apenas fazendeiros procuravam cavalos para comprar. Hoje em dia, esse mercado se sustenta com profissionais liberais, que também querem ter esses animais, e com empresários de diversas áreas que enxergaram esse potencial e estão montando seus haras.”

Campos Filho acompanha todo o processo de reprodução na Vassoural, desde a seleção dos animais para os cruzamentos até o nascimento e o desenvolvimento das crias. Ele explica que a estação de monta vai de setembro a março no país, mas que, na fazenda, a opção é por fazer só nos três primeiros meses, para que os potros nasçam próximos uns dos outros, o que facilita o manejo.

Fazenda Tapiratuba, em Morro Agudo, seleciona cavalos mangalarga há mais de um século — Foto: Divulgação/Fazenda TapiratubaFazenda Tapiratuba, em Morro Agudo, seleciona cavalos mangalarga há mais de um século — Foto: Divulgação/Fazenda Tapiratuba

Fazenda Tapiratuba, em Morro Agudo, seleciona cavalos mangalarga há mais de um século — Foto: Divulgação/Fazenda Tapiratuba

A propriedade tem estrutura tanto para a monta natural como para inseminações artificiais – em que as éguas matrizes recebem o sêmen dos garanhões e, após oito dias, os embriões são retirados e transferidos para fêmeas receptoras, visando preservar as doadoras – que, por serem de “alto nível zootécnico”, são capazes de garantir o melhoramento genético.

A cada estação de monta, a fazenda promove cerca de 15 novos nascimentos. “Esse número é mantido já há algum tempo, para que a qualidade do manejo também seja mantida”, afirma Campos Filho.

Pesquisa

Os números sobre o mercado de cavalos no Brasil não são tão precisos. Isso porque, de acordo com o professor Roberto Arruda de Souza Lima, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/Piracicaba), essa cadeia produtiva foi vista, durante muito tempo, como menor e pouco representativa frente a outras da pecuária.

A partir de 2006, no entanto, essa realidade começou a mudar. Naquele ano, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) pediu um estudo para constatar se esse mercado era mesmo supérfluo. E o que se viu foi justamente o contrário. Lima e outro professor, André Cintra, do Centro Universitário de Jaguaríuna (UniFAJ), perceberam que os negócios relacionados ao cavalo eram subestimados.

Criadores de cavalos estão otimistas quanto ao crescimento do mercado brasileiro — Foto: Felipe Ulbrich/Divulgação/ABCCCCriadores de cavalos estão otimistas quanto ao crescimento do mercado brasileiro — Foto: Felipe Ulbrich/Divulgação/ABCCC

Criadores de cavalos estão otimistas quanto ao crescimento do mercado brasileiro — Foto: Felipe Ulbrich/Divulgação/ABCCC

No ano passado, a pesquisa foi atualizada, para atender a uma demanda do Ministério da Agricultura. O resultado foi que a cadeia movimenta R$ 16 bilhões ao ano no Brasil, gerando 600 mil empregos diretos e R$ 3,2 milhões indiretos. “No entanto, esses números ainda podem estar subestimados, porque não consideramos as vendas de cintos, botas, chapéus. Não era possível separar, de forma minuciosa, quais desses artigos tinham a ver com cavalo, boi ou música sertaneja.”

O número de cavalos no país, segundo o Censo Agropecuário de 2017, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de pouco mais de 4,2 milhões, sendo 214 mil no estado de São Paulo. As raças mais criadas são o quarto de milha e o mangalarga marchador. Crioulo e mangalarga vêm na sequência.

Para Sergio Serio, presidente do Núcleo Mangalarga da Alta Mogiana, há justificativas para isso. Ele explica que as associações das duas primeiras realizam muitos eventos no país inteiro, o que serve de inspiração para as outras. Tanto que o próprio núcleo tem investido nisso. Em 2017, criou o Mangalarga Day, evento de divulgação da raça. Devido à repercussão, foi ampliado para dois dias na edição de 2018 e também adotado por outros núcleos.

Eventos contribuem para que o mercado de cavalos ganhe novos adeptos no Brasil — Foto: Divulgação/ABCCCEventos contribuem para que o mercado de cavalos ganhe novos adeptos no Brasil — Foto: Divulgação/ABCCC

Eventos contribuem para que o mercado de cavalos ganhe novos adeptos no Brasil — Foto: Divulgação/ABCCC

Para eles, os eventos contribuem para que o mercado de cavalos ganhe novos adeptos, o que ajuda criadores tradicionais – como o próprio Serio – no sustento da atividade. Nascido em Palermo, na Itália, ele mora há 36 anos no Brasil. Veio para cá com a esposa, Susana, que conheceu na Inglaterra, onde fazia especialização em direito.

Neta de Celso Torquato Junqueira, que, em 1934, foi um dos cinco fundadores da ABCCRM, ela assumiu, com a ajuda do marido, os negócios da família na Fazenda Tapiratuba, em Morro Agudo (SP), propriedade que seleciona cavalos mangalarga há mais de um século.

“Quem cria cavalos, mesmo na crise, não para. Prova disso é que, mesmo nos últimos anos, que foram complicados para diversos setores da economia, o mercado de cavalos evoluiu e continua firme”, declara Serio. “Não dá para negar que as vendas na nossa região foram afetadas, mas, devido aos eventos que tivemos e outras ações, as perspectivas para os próximos anos são bastante positivas.”